Arte em forma de doce

Gastronomia

País marcado pela forte adoção da religião católica romana, Portugal é um país com conventos em todo o território. Foi aí, nestes locais de reclusão e adoração, que nasceram algumas das maiores preciosidades da gastronomia portuguesa, verdadeiros pecados do palato. O manjar branco, o queijo dourado, os fartes, o toucinho do céu são apenas exemplos da riqueza imensamente doce que ainda hoje se produz nas cozinhas dominadas por mãos hábeis e apaixonadas pela confeção destas obras de arte.

A doçaria conventual é a ourivesaria da cozinha. As gemas de ovos, o açúcar e a amêndoa são os principais ingredientes. É impressionante a forma como apenas três elementos, resultam em doces tão exclusivos e requintados. Pouco práticos para quem anda de bicicleta, mas uma verdadeira explosão de doçura no final de uma refeição tradicional alentejana. A história destes doces é curiosa. Numa época em que Portugal era um dos maiores produtores de ovos da Europa, as claras eram utilizadas como elemento purificador na produção de vinho branco e para engomar roupas elegantes de homens ricos por todo o continente. O excesso de gemas e o acesso facilitado ao açúcar, fez com que muitas freiras, provenientes de famílias nobres, não se limitassem à reflexão e à adoração. As cozinhas dos conventos transformaram-se em autênticos laboratórios gastronómicos.

Em Portalegre, o mais importante foi o de Santa Clara. É daí que saíram as principais receitas conventuais desta região e que ainda hoje são rigorosamente respeitadas por artistas gastronómicos. Na Gazeta Rides somos apaixonados pelos doces e pelas histórias que os rodeiam. Não levamos toucinho do céu ou rebuçados de ovo para as nossas voltas de bicicleta. Mas não recusamos como sobremesa, com o café, e entre dois dedos de conversa com os amigos. É assim que também gostamos de viver a vida. Mas sempre com moderação, porque estas tentações são verdadeiras guloseimas de tão doce que têm.

A doçaria conventual é a ourivesaria da cozinha. As gemas de ovos, o açúcar e a amêndoa são os principais ingredientes
As cozinhas dos conventos transformaram-se em autênticos laboratórios gastronómicos
O manjar branco, o queijo dourado, os fartes, o toucinho do céu são apenas exemplos da riqueza imensamente doce da doçaria conventual